segunda-feira, junho 19, 2006

Espetada

Fina dor, fina
Em dor fina

Em fina dor
Dor, em fim...

Finar, findar
Enfim dor.

O peixe lento, corpulento
Que se move na indecisão,
Não se comove.
Locomove no arpão.

segunda-feira, abril 10, 2006

Quarto Escuro

Os pássaros gigantes são a sombra do mundo e das danças das estórias. Pássaros de papel tingindo de ilusão um espaço redondo e macio. Voam comigo para dentro, para o interior do mundo. Notas soltas bem mais cruéis que o sonho entoam nos seus bicos. Debicam um papel infantil e antigo. Fica bem mais real esse quarto de papel aberto pelas asas amplas.
Penduro as formas no ar e no papel do quarto. As folhas tingem-se com a autonomia de um pensamento benevolente para com a intuição.
À noite acordava para voar com os pássaros pretos no centro do peito.

quarta-feira, janeiro 04, 2006


alma livreira

Mateus era bibliotecário. Costumava admirar todos aqueles livros, pensando... – 100 anos não chegavam para lê-los... quanta sabedoria desperdiçada...! –.
Aquele livro da prateleira mais alta estava sempre a fisgar-lhe o olho. Por preguiça ainda não o lera, mas naquele dia, armou o escadote, e lançando a mão ao livro, desequilibrou-se, fatalmente...
Um novo bibliotecário entrou ao serviço. Todos os dias encontrava na sua secretária o mesmo livro. Todos os dias armava o escadote e arrumava-o na prateleira mais alta. – Não há dúvida... o que permanece dos livros é o espírito...- murmurou para s
i.



Ilustração de Pedro Machado